Descortiçar sobreiros em anos secos pode causar “crise de carbono”
Um estudo português a publicar em fevereiro de 2026 revela que o descortiçamento de sobreiros durante anos extremamente secos pode desencadear uma verdadeira “crise de carbono”, enfraquecendo a árvore e diminuindo a sua capacidade de resistir a secas futuras.
Os investigadores defendem que a gestão do montado deve ser adaptada às condições climáticas, ajustando o momento do descortiçamento de forma a garantir que as árvores recuperam as suas reservas de carbono.
A investigação, conduzida num montado certificado da região de Coruche, analisou os efeitos a curto e médio prazo do descortiçamento no metabolismo do carbono e nas relações hídricas do sobreiro (Quercus suber). O estudo centrou-se em 2015, um dos anos mais secos da última década, e monitorizou 12 árvores adultas — seis descortiçadas e seis mantidas como controlo.
Ao longo do ano, foram avaliados parâmetros fisiológicos como o potencial hídrico foliar, o fluxo de seiva, a evaporação de água pelo tronco e a respiração do tronco. Após o descortiçamento, os investigadores analisaram ainda a variação do teor de hidratos de carbono não estruturais (como amido, sacarose, glucose e frutose), o teor de fenóis totais e o perfil de metabolitos, recorrendo a técnicas bioquímicas e cromatográficas.
Principais conclusões do estudo
Os resultados revelam impactos imediatos e prolongados no metabolismo das árvores descortiçadas:
– Redução do fluxo de seiva até 55% em comparação com as árvores controlo, sem recuperação até ao final do verão.
– Aumento da respiração do tronco e acumulação de glucose e frutose no floema logo após o descortiçamento, sugerindo um elevado custo energético.
– Depleção significativa de amido e sacarose no floema, indicando uma rápida mobilização de carbono para regenerar a cortiça e formar novos tecidos.
– Ausência de alterações significativas no metabolismo foliar, o que demonstra que os efeitos imediatos se concentram sobretudo no tronco.
Impacto na resiliência do montado
Segundo os autores, estes resultados mostram que o descortiçamento em condições de seca pode comprometer o equilíbrio energético da árvore, reduzindo as suas reservas de carbono e limitando a sua resiliência a eventos climáticos extremos. “É essencial que a gestão florestal considere a variabilidade climática e o estado fisiológico das árvores”, defendem os investigadores.
O estudo salienta que práticas mais adaptadas – como ajustar o calendário de descortiçamento – poderão contribuir para manter a saúde dos sobreiros e a sustentabilidade a longo prazo dos montados.
Referência do estudo
C.A. Pinto, F. Costa e Silva, A.C. Correia, J. Graça, O. Zarrouk, T.S. David, J.C. Rodrigues, J.S. Pereira, M.M. Chaves e C. Pinheiro (2026, in press). Cork stripping alters the seasonal carbon allocation patterns of Quercus suber in a dry year. Forest Ecology and Management 601: 123331.
Pode ter acesso à versão integral do estudo AQUI