
Floresta portuguesa precisa de equilibrar investimento, inovação, regulação e simplificação administrativa
Investimento e Responsabilidade
João Duque, presidente do ISEG destacou a transformação em curso nos mercados financeiros, onde investidores institucionais – fundos de pensões, seguradoras e grandes fundos – passam a exigir responsabilidades sociais e ambientais, para além da rentabilidade, identificando aqui uma nova oportunidade de apoio à floresta. Defendendo que a floresta deve ser valorizada não só pela madeira ou cortiça, mas também pela captura de carbono, biodiversidade, paisagem e qualidade de vida, este responsável sublinhou também que a estrutura fundiária dispersa e pouco rentável exige medidas do Estado, como incentivos fiscais e gestão integrada, que permitam atrair investidores e garantir escala. Alertou ainda para a falta de transmissão de valor na fileira florestal, onde a concentração industrial pressiona os pequenos produtores, e defendeu maior regulação para evitar riscos de abuso de posição dominante.
Reforço do ICNF e proximidade ao território
O presidente do ICNF realçou a complexidade dos problemas florestais e a falta de soluções simples para este setor. Recordou que o instituto perdeu 12% dos trabalhadores desde 2011, apesar de lidar com 88 mil processos por ano, o que exige reforço de recursos humanos e maior proximidade aos produtores. Enfatizou a importância da confiança dos investidores, da cooperação com universidades e autarquias e do combate ao despovoamento do território, sublinhando a necessidade de maior cooperação entre todos os agentes ligados à floresta, que é um ativo estratégico nacional.
O papel chave da ciência e inovação
Nuno Canada, presidente do INIAV alertou que sem investimento em conhecimento e inovação os problemas estruturais do setor podem agravar-se. Destacou o papel dos Centros de Competência na transferência de conhecimento e mostrou otimismo com a criação da Agência de Investigação e Inovação, prevista para 2025. Defendeu a diversificação económica do território e a aposta em fileiras críticas como sobreiro e pinheiro-manso. Alertou ainda para a necessidade de formação contínua de produtores e engenheiros florestais, para que seja viável a adoção de novas tecnologias e boas soluções não fiquem por aplicar no terreno.
Menos burocracia e mais eficiência
O CEO do Agroportal, José Diogo Albuquerque, com experiência governativa e europeia, destacou a excessiva burocracia como um dos maiores entraves ao setor agrícola e florestal, sublinhando que esta resulta de três níveis principais: Legislação complexa, fruto da cultura portuguesa de complicar e criar exceções, a aplicação da lei, onde os serviços tendem a acrescentar exigências e a falta de articulação entre organismos, o que gera entropia e bloqueios. Sublinhando que Portugal precisa de uma gestão administrativa estável e previsível, defendeu mecanismos de coordenação obrigatória e regular entre serviços, inspirados em modelos de gestão rigorosos, que sejam capazes de garantir previsibilidade e eficácia, usando o modelo das instituições europeias.
Conclusão
O debate evidenciou que o futuro da floresta portuguesa depende de um equilíbrio entre investimento, inovação, regulação e simplificação administrativa. Apenas através de maior escala, confiança e responsabilidade partilhada será possível garantir uma floresta sustentável, rentável e resiliente, preparada para enfrentar os desafios do século XXI.