Floresta portuguesa precisa de equilibrar investimento, inovação, regulação e simplificação administrativa

Esta foi a conclusão a que chegaram os especialistas do setor académico, científico, associativo e empresarial que se reuniram no segundo painel do seminário “Sem Rentabilidade não há Floresta”, promovido pela UNAC na edição deste ano da AGROGLOBAL, que contou com intervenções de João Duque (Presidente do ISEG), Nuno Banza (Presidente do ICNF), Nuno Canada (Presidente do INIAV) e José Diogo Albuquerque (CEO do Agroportal), que partilharam visões complementares sobre os principais entraves e oportunidades do setor.
Investimento e Responsabilidade

João Duque, presidente do ISEG destacou a transformação em curso nos mercados financeiros, onde investidores institucionais – fundos de pensões, seguradoras e grandes fundos – passam a exigir responsabilidades sociais e ambientais, para além da rentabilidade, identificando aqui uma nova oportunidade de apoio à floresta. Defendendo que a floresta deve ser valorizada não só pela madeira ou cortiça, mas também pela captura de carbono, biodiversidade, paisagem e qualidade de vida, este responsável sublinhou também que a estrutura fundiária dispersa e pouco rentável exige medidas do Estado, como incentivos fiscais e gestão integrada, que permitam atrair investidores e garantir escala. Alertou ainda para a falta de transmissão de valor na fileira florestal, onde a concentração industrial pressiona os pequenos produtores, e defendeu maior regulação para evitar riscos de abuso de posição dominante.  

Reforço do ICNF e proximidade ao território

O presidente do ICNF realçou a complexidade dos problemas florestais e a falta de soluções simples para este setor. Recordou que o instituto perdeu 12% dos trabalhadores desde 2011, apesar de lidar com 88 mil processos por ano, o que exige reforço de recursos humanos e maior proximidade aos produtores. Enfatizou a importância da confiança dos investidores, da cooperação com universidades e autarquias e do combate ao despovoamento do território, sublinhando a necessidade de maior cooperação entre todos os agentes ligados à floresta, que é um ativo estratégico nacional.

O papel chave da ciência e inovação

Nuno Canada, presidente do INIAV alertou que sem investimento em conhecimento e inovação os problemas estruturais do setor podem agravar-se. Destacou o papel dos Centros de Competência na transferência de conhecimento e mostrou otimismo com a criação da Agência de Investigação e Inovação, prevista para 2025. Defendeu a diversificação económica do território e a aposta em fileiras críticas como sobreiro e pinheiro-manso. Alertou ainda para a necessidade de formação contínua de produtores e engenheiros florestais, para que seja viável a adoção de novas tecnologias e boas soluções não fiquem por aplicar no terreno.

Menos burocracia e mais eficiência

O CEO do Agroportal, José Diogo Albuquerque, com experiência governativa e europeia, destacou a excessiva burocracia como um dos maiores entraves ao setor agrícola e florestal, sublinhando que esta resulta de três níveis principais: Legislação complexa, fruto da cultura portuguesa de complicar e criar exceções, a aplicação da lei, onde os serviços tendem a acrescentar exigências e a falta de articulação entre organismos, o que gera entropia e bloqueios. Sublinhando que Portugal precisa de uma gestão administrativa estável e previsível, defendeu mecanismos de coordenação obrigatória e regular entre serviços, inspirados em modelos de gestão rigorosos, que sejam capazes de garantir previsibilidade e eficácia, usando o modelo das instituições europeias.

Conclusão

O debate evidenciou que o futuro da floresta portuguesa depende de um equilíbrio entre investimento, inovação, regulação e simplificação administrativa. Apenas através de maior escala, confiança e responsabilidade partilhada será possível garantir uma floresta sustentável, rentável e resiliente, preparada para enfrentar os desafios do século XXI.