Investigador do INIAV alerta para principais pragas que afetam o Pinheiro manso e a produção de pinhão

O investigador Luís Bonifácio, do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), apresentou uma análise detalhada sobre as principais pragas que afetam o pinheiro-manso e comprometem a produção de pinhão em Portugal. As declarações foram feitas no âmbito do recente Seminário “Pinhal Manso – O Desafio da Produção”, promovido em Alcácer do Sal pelo Centro de Competências do Pinheiro manso e Pinhão.

Segundo o especialista, a processionária do pinheiro continua a ser um dos fatores de enfraquecimento mais relevantes, sobretudo em áreas urbanas, onde representa também um risco para a saúde pública. No entanto, Luís Bonifácio destacou que os maiores impactos económicos recaem sobre os insetos que atacam diretamente as pinhas.

Leptoglossus: praga exótica perdeu impacto após pico inicial

Entre as pragas mencionadas, o Leptoglossus occidentalis, conhecido como “sugador da pinha”, mereceu especial atenção. Espécie exótica introduzida na Europa em 2014, entrou primeiro pela Itália e espalhou-se rapidamente pelo continente.

Estudos realizados entre 2014 e 2019 indicaram que a praga teve um impacto muito significativo nos primeiros anos, causando elevadas perdas por produzir pinhões “chochos”. Contudo, ao longo do tempo, verificou-se uma redução progressiva da sua relevância, com os danos a situarem-se abaixo de 5% em 2018 e 2019.

Segundo o investigador, árvores regadas e fertilizadas apresentaram maior incidência de dano, sugerindo preferência do inseto por pinhão de melhor qualidade. Apesar disso, não existem atualmente meios de combate eficazes para a espécie, quer em captura, quer em monitorização, sendo que a luta química permanece limitada devido ao risco de resíduos, resistência e efeitos fitotóxicos. Foi identificado um parasitoide natural, mas de eficácia reduzida por ser generalista.

Lagarta das pinhas é responsável por mais de 80% dos danos

A praga que atualmente mais preocupa os produtores é a lagarta das pinhas (Dioryctria mendacella), espécie nativa e predominante no ecossistema mediterrânico.

As lagartas desenvolvem-se no interior da pinha, alimentando-se do pinhão e causando deformações, exsudação e queda precoce do fruto. Comparativamente, o gorgulho-das-pinhas (Pissodes validirostris) apresenta impacto marginal, sendo responsável por uma fração mínima dos ataques.

Ensaios conduzidos no âmbito do projeto operacional Mais Pinhão permitiram identificar, pela primeira vez em Portugal, o período de voo da praga – concentrado entre o final de agosto e fim de setembro. Armadilhas delta com feromonas têm sido testadas em diferentes densidades, entre 1 e 12 armadilhas por hectare, com o objetivo de definir a quantidade ideal para o controlo populacional.

Luís Bonifácio explicou que o próximo objetivo da investigação é fazer com que os produtores saibam quantas armadilhas devem instalar, de modo a maximizar a captura e reduzir a proporção de pinhas bichadas.

Controlo químico é limitado

O uso de inseticidas de contacto ou ingestão só é eficaz quando as larvas estão expostas, o que raramente ocorre, já que passam quase todo o ciclo dentro da pinha. Outros métodos, como a microinjeção, utilizada em meio urbano contra a processionária, não estão homologados para Dioryctria em Portugal.

Os resultados completos dos ensaios com armadilhas deverão orientar futuras recomendações técnicas para a fileira, num momento em que a baixa produtividade do pinheiro-manso acentua a necessidade de reduzir perdas causadas por pragas.