Mercado Voluntário de Carbono aposta em novas florestações
O novo sistema, recém lançado em Portugal, permite a empresas e cidadãos investir em projetos nacionais de reflorestação e gestão florestal sustentável, reforçando o papel das florestas na captura de carbono e na adaptação às alterações climáticas. A primeira metodologia aprovada, intitulada “Novas Florestações em Portugal” está alinhada com o Plano de Intervenção da Floresta 2025–2050.
A cerimónia de apresentação, realizada no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, contou com a presença do presidente da Agência para a Energia (ADENE), Nelson Lage, e da presidente da Agência para o Clima, Ana Teresa Pérez, entre outros representantes do setor público e privado.
Segundo Nelson Lage, a plataforma mvcarbono.pt, gerida pela ADENE, “é digital, segura e baseada em tecnologia blockchain”, garantindo a transparência e a credibilidade dos créditos de carbono emitidos.
“Através deste sistema, conseguimos transformar intenções em ações com impacto real – e as florestas são o coração desta transformação”, afirmou Lage.
O sistema funcionará através da transação de créditos de carbono, representando emissões evitadas ou sequestradas, que poderão ser comprados por empresas interessadas em compensar as suas emissões – até agora canalizadas sobretudo para mercados internacionais.
Durante a sessão, a presidente da Agência para o Clima, Ana Teresa Pérez, sublinhou que este lançamento é o resultado de dois anos de trabalho intenso e colaborativo. “Foi um percurso exigente, mas guiado por rigor técnico, transparência e integridade”, afirmou, frisando que o mercado se baseia na confiança e na qualidade dos projetos apresentados.
O chefe da Divisão de Políticas de Mitigação da Agência para o Clima, Paulo Lourenço, explicou que a primeira metodologia aprovada centrada nas novas florestações, tem o foco na conversão de solos não florestais em áreas florestais. Estes projetos podem incluir plantação, sementeira ou regeneração natural, desde que cumpram critérios rigorosos de elegibilidade e assegurem benefícios adicionais para a biodiversidade e o capital natural.
“O mercado voluntário de carbono valoriza o papel das florestas como sumidouros naturais de carbono, criando incentivos concretos para quem planta, gere e protege o território”, destacou Lourenço.
Os projetos florestais poderão ter duração entre 30 e 100 anos, garantindo permanência, adicionalidade e transparência – três princípios centrais do sistema. Cada crédito de carbono representa uma tonelada de CO₂ equivalente reduzida ou sequestrada, validada por verificadores independentes qualificados pela ADENE.
Além da metodologia de novas florestações, duas novas metodologias já estão em desenvolvimento: uma dedicada à reflorestação de áreas degradadas ou ardidas, e outra à gestão florestal sustentável, que promoverá práticas como a redução de cortes, o prolongamento dos ciclos de rotação e a gestão de combustíveis para reduzir o risco de incêndios. Ambas deverão ser submetidas a consulta pública no primeiro semestre de 2026.
“Estas metodologias pretendem valorizar as boas práticas florestais e criar incentivos económicos para quem contribui ativamente para a neutralidade climática”, afirmou Lourenço.
O Governo recebeu já mais de 100 propostas de projetos, a maioria localizada nas regiões Centro e Norte. Destes, nove enquadram-se diretamente na metodologia agora aprovada.
Com esta iniciativa, Portugal posiciona-se entre os primeiros países europeus a criar um mercado nacional de carbono alinhado com os novos referenciais internacionais.
Atualmente, o país já conta com mais de 150 profissionais formados e 50 entidades envolvidas no novo mercado.