Produtores, indústria e associações pedem mudança estrutural na floresta

A floresta portuguesa está em risco de abandono se não houver garantias de rentabilidade para os produtores. O alerta foi deixado no seminário “Sem Rentabilidade não há Floresta” promovido pela UNAC na edição deste ano da AGROGLOBAL onde agricultores, industriais e associações defenderam a necessidade urgente de valorizar economicamente o setor que continua refém da falta de rentabilidade económica.

 

Produção em risco de abandono

Pedro Silveira, diretor da UNAC, abriu o painel sublinhando que a produção florestal sobrevive com dificuldades crescentes entre preços em queda, aumento dos fatores de produção, crescentes pragas e doenças resultantes das alterações climáticas e legislação restritiva. “É impossível fazer floresta em Portugal com esta realidade. O produtor está condenado a perder dinheiro”, afirmou, lembrando que o setor da cortiça, em particular, enfrenta atualmente preços abaixo dos custos de produção. Este responsável alertou ainda para a concorrência de alternativas mais rentáveis que não protegem a floresta, como o arrendamento para parques fotovoltaicos, que geram sete vezes mais rendimento por hectare do que o eucalipto.

 

Prestadores de serviços em alerta

Pedro Serra Ramos, diretor da ANEFA, frisou o crescente abandono dos espaços florestais nos últimos anos, que associou à escalada dos custos operacionais, desorganização da fileira a dificuldades na gestão. “Andamos todos a disputar o mesmo cliente. A cadeia está desequilibrada há muitos anos e o preço da madeira não é justo”, afirmou. Para este responsável, a ausência de rentabilidade compromete o investimento em maquinaria e tecnologia, limitando a eficiência das operações. “Chegámos ao limite. Sem preço justo, o produtor não consegue gerir e as empresas não conseguem sobreviver.”

 

Indústria aposta em escala e inovação

Nuno Calado, da Sonae Arauco, apresentou a visão da indústria referindo défices de abastecimento e dificuldades em estabelecer parcerias com outros agentes do setor para ultrapassar este problema. Atualmente, referiu, a opção da Sonae Arauco é investir em gestão florestal própria. “Não é possível gerir risco sem escala. Estamos a trabalhar em arrendamentos de 80 anos, em mosaicos de várias espécies, conciliando biodiversidade e produtividade”, afirmou. O gestor apelou ainda à simplificação burocrática e defendeu novas fontes de financiamento para a floresta, como o reforço do Fundo Florestal Permanente, atualmente diluído no Fundo Ambiental.

 

Agregação e apoio diferenciado

António Luís Marques, diretor da CAP, insistiu na necessidade de distinguir entre proprietários e produtores florestais. “Não podemos tratar da mesma forma quem investe e quem apenas herdou meia dúzia de hectares improdutivos”, disse, defendendo tipos de financiamento diferenciados para estes dois grupos que passem por apoios e pelo pagamento de serviços de ecossistema. Sublinhou ainda a importância do trabalho já feito no Norte e no Sul do país na agregação de proprietários, como forma de ganhar dimensão e reforçar a defesa contra incêndios, pragas e doenças. Uma estratégia que passa por Zonas de Intervenção Florestal (ZIF), agrupamentos de baldios e Áreas Integradas de Gestão da Paisagem (AIGP). “Há muito trabalho feito que não pode ser desperdiçado. O Estado tem de garantir previsibilidade e contratos de programa com as organizações de produtores.”

 

Unir a fileira para salvar a floresta

Na conclusão, os oradores concordaram que o futuro da floresta depende da articulação entre todos os elos da cadeia. “Temos de nos sentar à mesa, falar abertamente sobre preços e responsabilidades, e assumir que a floresta é um bem essencial para o país”, resumiu Pedro Serra Ramos.