Regresso da Resina Portuguesa combina tradição e inovação

A extração de resina, um ofício antigo que marcou gerações está a renascer em Portugal e para acompanhar esta nova oportunidade de rentabilização dos pinhais o Centro de Competências do Pinheiro manso e Pinhão promoveu no passado dia 14 de outubro, em Alcácer do Sal, uma sessão de demonstração desta atividade.

A iniciativa foi conduzida por Raquel Bento, responsável pela Resibento, empresa dedicada à exploração de resinas e membro da direção da ResiPinus, a Associação nacional que representa os exploradores e a primeira indústria do setor.

A herança que atravessa gerações

“A atividade surgiu na família ainda no tempo dos meus avós”, conta Raquel Bento. “O meu pai começou a trabalhar na área com apenas 12 anos, e recentemente decidimos formalizar o negócio com a criação da empresa que hoje se dedica à exploração da resina.”
Mais do que uma empresa, a Resibento representa uma continuidade de saberes transmitidos ao longo de décadas – uma ligação à terra e à floresta que, hoje, ganha novo fôlego.

Um setor que volta a ganhar força

Nos anos 70 e 80, Portugal chegou a ser líder mundial na exploração de resina, com uma produção superior a 140 mil toneladas por ano. Depois, seguiu-se um longo período de declínio. “Durante cerca de uma década quase não se ouvia falar em resina”, recorda Raquel. “Mas há cerca de cinco anos voltou a surgir interesse, e foi esse movimento que nos motivou a investir novamente nesta área.”

Hoje, o país produz entre 8 e 9 mil toneladas anuais, envolvendo cerca de 400 resineiros e uma dezena de empresas de primeira e segunda transformação. Embora a escala ainda seja reduzida, o potencial é enorme.

O papel da ResiPinus e o novo impulso

Grande parte deste renascimento deve-se ao trabalho da Associação ResiPinus, que tem promovido o desenvolvimento do setor, fomentando a inovação, atualizado práticas e defendido a revisão da legislação. “A associação tem sido fundamental para modernizar o setor e fixar pessoas nas zonas rurais”, sublinha Raquel.
Além da criação de emprego, ao fomentar a presença humana na floresta, a resinagem contribui também para a prevenção de incêndios, uma das suas mais-valias menos conhecidas.

O valor acrescentado da resina dos pinheiros mansos

Em Portugal a extração de resina é hoje feita maioritariamente em pinheiro bravo, mas começa também a crescer em pinhais com pinheiro manso que oferece uma resina com características químicas distintas. “A resina do pinheiro manso cristaliza mais rapidamente e contém limoneno, um composto muito valorizado pela indústria química”, explica Raquel. Apesar das diferenças de qualidade, o valor de mercado é atualmente semelhante para ambos os tipos de resina.

Um produto multiusos

Vernizes, tintas, perfumes, adesivos de pneus, produtos alimentares, entre outros, a resina está presente em inúmeros objetos do dia a dia. No entanto, a produção nacional ainda é insuficiente. “Tudo o que produzimos num ano dá apenas para abastecer dez dias da indústria transformadora”, explica Raquel.
A concorrência internacional – especialmente do Brasil, China e Argentina – impõe preços muito baixos, o que torna difícil competir em escala. “O nosso caminho é apostar na qualidade e posicionar a resina portuguesa como um produto premium.”

Inovação e tecnologia: o futuro da resinagem

Apesar de operar num quadro legislativo antigo e burocrático, o setor está a apostar na inovação. “As ferramentas e métodos são praticamente os mesmos desde 1957. Agora o objetivo é criar máquinas que facilitem o trabalho, sem substituir o operador, mas tornando o processo mais leve e eficiente”, afirma Raquel Bento.
Essa modernização poderá atrair novos trabalhadores e aumentar a produção sem comprometer a qualidade – um passo essencial para revitalizar esta atividade.

Colaboração e mudança de paradigma

Espanha surge como um exemplo próximo e inspirador. “Eles estão mais avançados em termos de tecnologia e de estudos. Temos aprendido muito com a sua experiência, para não repetir erros e adaptar soluções à nossa realidade”, diz Raquel.
Com o apoio de fundos e de um esforço conjunto entre empresas, associações e entidades públicas, Portugal vive agora uma fase decisiva. “A altura de mudar é agora”, defende. “Temos de formar pessoas, implementar tecnologia e transformar a resinagem num setor de futuro.”

Um setor com potencial sustentável

Para os proprietários florestais, a resinagem pode representar um rendimento complementar. A ResiPinus faz a ponte entre proprietários e resineiros, facilitando acordos de exploração. E, para quem tem pinhais em regime biológico, a atividade não é incompatível com as certificações ambientais – desde que acompanhada pelos auditores competentes.

A história da resina portuguesa é a prova de que a tradição e a inovação podem caminhar lado a lado. Com novas técnicas, formação e um olhar sustentável sobre os recursos naturais, Portugal pode voltar a afirmar-se neste setor – agora com mais consciência ambiental e com uma qualidade que tem todas as condições para criar um produto que se distingue a nível global.

 

Mais informações e pedidos de apoio para novas explorações podem ser enviados para: apoio@resipinus.pt