Resinagem em Portugal: setor estratégico enfrenta desafios de competitividade

A fileira da resina natural em Portugal, com forte tradição histórica e relevância ambiental, atravessa um momento de fragilidade estrutural. Apesar de representar uma oportunidade estratégica para a bioeconomia e para a valorização dos recursos florestais nacionais, o setor continua a debater-se com problemas de competitividade e com a ausência de medidas públicas específicas que possam assegurar o seu desenvolvimento sustentável.

Esta análise foi apresentada por Marco Ribeiro, presidente da Resipinus – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina, criada em 2013 que é atualmente a única entidade que representa a fileira da resina natural no país, no âmbito de uma sessão sobre a resinagem do pinheiro-manso no Alentejo Litoral.

O encontro promovido pela ANSUB – Associação de Produtores Florestais do Vale do Sado no Cineteatro Grandolense, no dia 18 de setembro, foi dedicado à valorização do pinheiro-manso e dos seus subprodutos e contou com grande participação de produtores florestais.

Produção reduzida e impacto económico limitado

Segundo os dados divulgados, existem atualmente em Portugal 20 a 25 mil hectares de pinhal resinados, envolvendo cerca de 500 resineiros. A produção anual ronda as 7 mil toneladas, com um volume de negócios estimado em 10 milhões de euros.

Embora relevantes para as comunidades locais, estes números ficam muito aquém do potencial histórico do setor. Nos anos 1980, a produção atingia 160 mil toneladas e existiam 140 unidades fabris dedicadas à transformação da resina.

“Hoje, apesar do esforço de agregação da cadeia de valor, o peso económico, social e ambiental do setor é ainda insuficiente para influenciar a definição de políticas públicas”, reconheceu Ribeiro.

Concorrência internacional e custos de produção

O dirigente sublinhou ainda a dificuldade em competir com a resina proveniente de países como o Brasil, onde as condições naturais e os custos de produção são mais favoráveis. A situação agrava-se pelo facto de a resina importada entrar no espaço europeu sem barreiras aduaneiras.

Adicionalmente, os custos associados à mão de obra e ao equipamento aumentaram significativamente na última década, sem que o preço pago pela tonelada de resina tivesse acompanhado esta evolução.

Contributo ambiental e social

Para além da vertente económica, a atividade resinícola contribui de forma determinante para a prevenção de incêndios florestais e para a manutenção das populações em territórios rurais.

“O simples facto de os resineiros estarem presentes diariamente no pinhal durante a época de verão tem permitido evitar dezenas de ignições. Trata-se de um serviço de ecossistema muitas vezes desvalorizado, mas essencial para a resiliência do território”, destacou o responsável da Resipinus.

Perspetivas futuras

Apesar dos constrangimentos, a associação acredita que a aposta em novas técnicas de resinagem poderá aumentar significativamente a produtividade e reduzir os custos operacionais. Ensaios recentes revelaram ganhos expressivos de eficiência, aproximando o setor nacional das práticas mais avançadas observadas em Espanha.

Para Ribeiro, porém, o futuro da atividade depende da capacidade de se estruturar uma estratégia nacional de longo prazo, acompanhada de recursos financeiros adequados: “Se consideramos a resinagem um setor estratégico, então é imperativo investir em investigação aplicada e em medidas de apoio consistentes, que não fiquem reféns de candidaturas avulsas ou de ciclos de financiamento curtos” referiu.